terça-feira, 8 de abril de 2008

Alma Colorida

Após receber tanto carinho de meus queridos amigos, sou surpreendida por um texto que um querido amigo me escreveu.
Peço-lhe a permissão para divulgá-lo, pois tem tanto sentimento, carinho e poesia que necessito dividir com vocês:
"Alma Colorida

No início, havia escuridão, tão negra como a noite. E o silêncio, chocante.

Chocante, então, começou a soar o tambor. O mais surdo, o mais grave, o mais profundo tambor, com batidas lentas e compassadas. Batidas de arrepiar.
Tum! Tuuuuuuuum! Tum! Tuuuuuuuum!

Nada enxergava na escuridão. Sabia apenas que o tambor estava ali, no escuro, à frente. Forte, poderoso, desafiador.

Depois veio o lamento, grave também, acompanhando o tambor. Lamento grave, masculino, ritmado, a um tempo interrompido e contínuo, que foi crescendo como que intumescendo a alma.
Oô! Oôôôôôôôô! Oô! Oôôôôôôôô! Oô! Oôôôôôôôô!

O tambor parou, o canto estacou. Então, um grito feminino, gutural, animal, rasgando alma e entranhas. Grito de dor, que subiu num paroxismo, até decrescer por esgotamento.

E agora, lá, de onde irrompia esta emoção, uma fogueira acendeu-se lentamente. Bruxuleando, apenas, indicando figuras nas sombras. Figuras que se moviam, à volta dos tambores, soando agora os atabaques, acompanhados do tambor - o grande tambor-mãe. Batuque sincopado, cantado à roda do fogo, onde aos poucos começa a se destacar um rosto.
Este rosto se volta, lentamente, destacando o perfil e depois a face negra, de homem nefro, rosto curtido e sábio agora olhando diretamente para você, girando ao mesmo em que se acelera o ritmo dos atabaques.

Novo súbito silêncio. Os olhos, negros, refletindo o fogo do fogo, pareceu crescer. E então, fracamente, recomeçam atabaques e surdo a criar um espaço, uma atmosfera de invocação. E a voz grave, aquela do lamento, iniciou.

- Alma branca! Liberte-se, e purifique com o ritual do fogo sua alma branca!

A cada frase grave, entoada com força telúrica, os tambores aceleram, e o lamento feminino ressoa cortando o ar.

- Liberte sua alma, branca, sua alma branca, branca de preconceito, de idéias seculares, de idéias de sujeição, de inferioridade, de asco. Branca! Fique pura com o fogo, o fogo da verdade nua e crua, pois toda sua alma ... branca, não passa de preconceito, branco.

Nesse momento o vulto negro cai para a frente, abraçando os joelhos, e não pode mais ser visto. Assim como o fogo, que se reduz a uma simples chama.

E tudo recomeça, o tambor, os lamentos, os atabaques, o clímax do ritmo, e o vulto negro volta a crescer como sobe o fogo.

- Alma negra! Liberte-se, e purifique com o ritual do fogo sua alma negra!

- Liberte sua alma negra, branca, sua alma negra, escura de preocupações de medos, de medos, de rancores,de problemas recentes, de idéias de sujeição, de inferioridade, de ódios. Branca! Fique pura como o fogo, o fogo livre, que se consome enquanto vive, que à sua volta ilumina, pois toda sua alma ... escura, rodos os seus problemas, ficarão para trás. É preciso que você fique forte e clara como o fogo, para enfrentar o que a espera ...

E você suava, agitada. Todo o seu ser transpirava, envolvida pelo ritmo e pelas imagens e pela voz.

E então o fogo cresceu em fogueira, e os vultos sombras cresceram em homens e mulheres ... negros. Negros, como a escuridão à volta da fogueira, que começou a se dissipar com a chegada do sol.
E os vultos começaram a soar e a tocar flautas, ganzás e pandeiros, ao mesmo tempo em que se levantavam e caminhavam lentamente ao seu encontro. Sob o sol, você via ao fundo um verde mundo, mundo de verde, montanhas e água, movimentado pelo calor do sol e pelo vento nas folhas.

Com a alegre cumplicidade da música alegre, você viu que as roupas deles e delas eram diferentes, muito diferentes das que você estava acostumada.Vestes compridas, multicoloridas e alegres, destacando que eles e elas eram belos, e negros.

- Porque aqui, para onde você vai, não precisamos de alma brancas, nem queremos ser refúgio de almas negras. Queremos pessoas fortes como o fogo, e puras como a água benfazeja. E que assim seja!

Não foi possível negar ... depois deste sonho, talvez tenha sido seu mais belo despertar.

N. R, 07/04/08"
Caro Amigo, me sinto lisonjeada por essas palavras e principalmente com o teu carinho.
Espero sempre contar com a tua amizade, mesmo a distância. E sinta-se livre para demonstrar esses pequenos pedacinhos de tua alma, pois nós, meros seres humanos precisamos desta poesia, deste calor, para nos acalentar o coração.

Um comentário:

Redneck disse...

Lindo isso! O cara é poeta, não é não? Beijo!